2 de nov. de 2009

Comunicação com os Mortos



... Logo após os primeiros passos da pesquisa, os próprios pioneiros passaram ao contra-ataque. Isto é, não ficaram somente na espera de casos espontâneos e na observação dos fenômenos apresentados pelos médiuns, senão que passaram a arquitetar experiências em certas condições ou características que pudessem garantir se de fato havia ou não comunicação dos mortos.

Um dos fundadores da Sociedade de Pesquisas Parapsicológicas, o Dr. Myers, tomou a iniciativa. O pesquisador, em absoluto segredo, deve colocar uma frase-senha num envelope fechado e lacrado e deixá-lo sob a vigilância da Sociedade. O envelope devia ficar lacrado até depois da morte do pesquisador.

Por outra parte, por mais dados de “identificação” que aparecessem, se não aparecesse a senha seria prova irretorquível de que não se trata de comunicação dos espíritos dos mortos, mas sim de telepatia entre vivos.

Myers escolheu uma senha que não fosse facilmente dedutível por alguém que o conhecesse bem. Após a morte de Myers, numerosos médiuns afirmaram receber comunicações de seu espírito. Especial destaque foi dado a prestigiada médium Sra. Thompson por suas maravilhosas qualidades de adivinhação. Bastante tempo depois, também, encheu de esperanças outra médium psicógrafa, famosíssima e culta, a Sra. Verral: perfeitamente “identificou” o espírito de Myers. Por fim, quase quatro anos após a morte de Myers, a Sociedade de Pesquisas Parapsicológicas decidiu abrir o envelope. E o fracasso foi contundente e cruel: nenhum de tantos parlapatões médiuns nem as estrelas Sras. Thompson, Verral, Piper e Willer apresentaram absolutamente nada que tivesse o mínimo parecido com a senha.

Visivelmente decepcionado pelo fracasso da experiência de Myers, o Dr. Hodgson jurou que ele, após sua morte, conseguiria, ou então todos deveriam renunciar definitivamente à hipótese da comunicação dos espíritos.

Deixou uma senha num envelope lacrado e selado, guardado no cofre da Sociedade. Morreu subitamente. A Sra. Piper, com efeito, recebeu muitas mensagens. O “espírito de Hodgson” conversava, discutia, animava os outros pesquisadores, exaltava o espiritismo.

Em 69 sessões com a Sra. Piper, o “espírito de Hodgson” mostrava todo o seu desejo de provar, dia após dia, a comunicação e a sua identidade. A médium remedava inclusive a voz de Hodgson, com perfeição. Para os espíritas, “agora sim”. Tinham certeza... Com ar de triunfo, esperavam a abertura do envelope. Abriu-se. Agora, também não! Da senha, nem vestígio! Nem Hodgson conseguiu! Agora todos deveriam renunciar definitivamente à hipótese da comunicação. Como a própria Piper haveria de concluir: “Devo dizer em verdade que não creio que os espíritos jamais tenham se comunicado por intermédio de mim em transe. Jamais disse alguma coisa que não estivesse latente no meu espírito ou no espírito de qualquer outra pessoa presente ou, enfim, no espírito de alguma pessoa ausente, mas viva em alguma parte deste mundo”. No presente ou no passado e mesmo no futuro. Mas viva. Telepatia entre vivos.

2 - MORTO, QUAL É A SENHA? (2.º de 3)

Acima vimos que os fundadores da Sociedade de Pesquisas Parapsicológica, internacional, organizaram a experiência em série de guardar em vida uma senha para ser revelada depois da morte. Sem a senha, certamente não seria comunicação dos mortos, senão telepatia entre vivos.

Williams James, o famoso filósofo e psicólogo da Universidade de Harvard, quis ele próprio colaborar na experiência da senha.

Pouco antes de morrer, enviou desde EUA carimbado o envelope com a senha. Guardou-se cuidadosamente no cofre da Sociedade.

Um mês após a morte já começaram os médiuns de diversos lugares a afirmarem que estavam recebendo mensagens de W. James. Por exemplo, o Sr. Ayer, presidente do “Tabernacle Spirite” garantia que estava em comunicação com o sábio pesquisador americano. E a afirmação fez tanta mais força quanto que publicava em nome de Williams James: “Eu acabo de acordar para uma vida que supera tudo o que eu pude conceber durante toda a minha vida terrestre, ‘dizei aos meus amigos que eu lhes transmitirei uma mensagem que lhes provará claramente minha personalidade’”.

Os pesquisadores pensavam que poderia tratar-se precisamente de senha. A esperança, especialmente dos espíritas, era tanto maior quanto que o “espírito de W. James” acabava de assegurar que “acordara para uma vida que superava tudo o que pode conceber...”. Sem dúvida plena lucidez! O entusiasmo que viu nos pesquisadores animou mais ainda o Sr. Ayer, que ficou cheio de confiança que os convenceria...

Mas... quando mais ou menos veladamente exigiram a senha..., o Sr. Ayer contrariando a lucidez que até agora atribuíra ao “espírito”, desculpou-se alegando que “como todos aqueles que acabem de morrer, James encontrava-se um pouco perturbado pela passagem à nossa vida. Ainda não encontrara a calma necessária para revelar-nos os mistérios do além, mas não tardaria!”

Queriam a senha. Não os mistérios do além. Só a senha. “Não tardaria”, acontece que a Sociedade ainda está esperando...

Camille Flammarion quando jovem, foi colaborador íntimo de Allan Kardec. Cesare Lombroso foi famoso psiquiatra e jurista. Ambos estavam profundamente interessados na experiência da senha. Deixaram suas senhas em envelopes lacrados.

Enquanto “esperava” o tempo de cumprir a promessa, Flammarion induziu a Sra. Werner, desenganada pelos médicos, a realizar a experiência. E foi total o fracasso nada menos que com Eusapia Palladino, a mais famosa médium de todos os tempos.

Ao seu tempo morreram Lombroso e Flammarion. E... até hoje não apareceram as senhas de nenhum dos três!

Provavelmente ninguém estava mais decepcionado do que Sir Oliver Lodge. Tendo morrido seu filho Raymond, Lodge estava doentiamente convencido de que recebia mensagens do além... O famoso físico garantia cada dia mais que quando ele próprio morresse, provaria a comunicação...

Deu-se a si mesmo bastante tempo para reestruturar-se no além (!?), ou para poder requerer aajuda de outros “desencarnados” realmente em condições de ser “espíritos-guias”: O envelope só poderia ser aberto muito depois da morte de Lodge. Assim também dava muito tempo aos intentos de muitos médiuns...

A Sociedade de Pesquisas carimbou com seu selo o envelope a 10 de junho de 1930. Morreu dez anos mais tarde, a 22 de agosto de 1940. Mas o envelope só poderia ser aberto a 19 de maio de 1951. Entre a escrita e abertura, 24 anos!

A quantidade de médiuns que aceitaram o desafio é inumerável. “Oficialmente”, apresentaram-se à Sociedade e ela controlou nada menos que 130 médiuns de prestígio. E a senha? Abriu-se o envelope na data prevista. Expectativa enorme... Ninguém adivinhara! A Sociedade divulgou que se tratava de quinze notas musicais. E nem assim, até hoje NINGUÉM reproduziu a senha!

Gurney e Sidgwick, que com Myers foram os principais fundadores da Sociedade deixaram também suas senhas.

Com a médium Sra. Willet manifestaram-se com toda a naturalidade e facilidade os “espíritos” de Gurney e de Sidgwick junto com os “espíritos” de Hodgson e de Myers. Todos convencidíssimos com tão maravilhosas e abundantes “provas de identificação”. Mas das senhas, precisamente das senhas, experiências de que tanto fizeram questão em vida, nada!

O espírito de Conan Doyle, apesar de ter sido em vida tão entusiasta do espiritismo, NÃO apresentou a senha até hoje, pese a que numerosíssimos médiuns afirmaram e ainda afirmam receber mensagens do célebre novelista inglês.

3 A EXPERIÊNCIA DA SENHA (3.º de 3)

Acima, vimos que os cientistas após a morte nunca conseguiram vir revelar a senha que em envelope lacrado deixaram na Sociedade de Pesquisas Parapsicológicas.

E conseguiu alguém fora da Ciência?

Houdini foi um dos melhores mágicos, e em evasões certamente o melhor de todos os tempos. Houdini morreu em outubro de 1926. Em 1929, a revista Graphic de New York explicava que Harry Houdini, pouco antes de sua morte, prometera que tentaria volver, se é que havia comunicação, e que como prova deixara com sua esposa, Beatrice, uma senha que só ele e ela conheciam. Mais ainda, comunicava também que Houdini estabelecera um prêmio de 10.000 dólares (soma muito elevada naquela época!) ao médium que recebesse a senha. A revista comunicava também que a senha constava de duas palavras.

Os juízes não concederam a ninguém o prêmio de 10.000 dólares.

Houve outra senha desconhecida de todos, em envelope lacrado, e para ser aberto após dez anos. Durante dez anos a viúva Beatrice freqüentou, numerosíssimas sessões de espiritismo. Em 1936, depois de célebre e quase pública sessão anunciada como último intento de contato, publicou que a senha nunca aparecera.

Em 1969, quando a BBC de Londres realizou um documentário para a tevê sobre a vida de Houdini, referiu que nenhum médium jamais apresentara nenhuma de outra senha de Houdini.

No Brasil, Monteiro Lobato prometera fazer largo uso da mediunidade psicográfica de Francisco Cândido Xavier – mas a fim de evitar mistificações - receoso das mortificações impostas a outros escritores nossos pela mediunidade nacional, deixou com Godofredo Rangel – diretor de dois jornais cariocas – senhas por que se daria a conhecer, caso baixasse. Monteiro Lobato morreu em São Paulo, em 1948. Chico Xavier, que não adivinhou nem a existência da “senha”, logo imitou o estilo. E os espíritas ficaram convencidos, como ficaram convencidos de que os melhores escritores brasileiros continuam suas obras pela psicografia do médium mineiro. Só que com Godofredo Rangel logo o desmentiu: faltavam as senhas.

Dona Ruth Fontoura – do Laboratório Fontoura - tem e mostrou ao nosso diretor padre Oscar Quevedo – outra senha deixada por Monteiro Lobato em envelope fechado e desconhecida por todos. Quando após as imitações de Chico Xavier foi aberto o envelope, nada de senha. A imitação de estilo de Monteiro Lobato é habilidade e mérito - não pequeno - de Chico Xavier, nada tendo a ver com a comunicação espírita do autor de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”.

O mesmo há que dizer, portanto por analogia, a respeito dos outros autores de língua portuguesa que Chico Xavier leu e imita... Em alemão, porém, em latim – língua de quem seria seu “espírito-guia”! –, nem sequer em espanhol – quase igual ao português – o “papa do espiritismo brasileiro”, ou só mínimas frases, bem curtas, manifestamente aprendidas de cor... Imitação de estilo, “ao modo de...”. Sem a senha e contra qualquer outra prova científica.

Freqüentemente nos livros dos mestres do espiritismo, ao tratar da experiência da senha, incluem-se casos que, embora tenham alguma analogia com esta experiência, na realidade não encaixam nela, como “O Ouvido de Diunysius”, que já fora expressamente citado dois anos antes da morte do Dr. Verral; a senha não secreta de Stead; o caso do Sr. Knox, onde o sobrevivente conhecia a senha e estava presente quando a médium adivinhou etc.

A senha poderia sair alguma vez, várias vezes, até muitas vezes. O importante e a comparação numérica dos êxitos “depois da morte” teriam que ser muito numerosos em comparação com os êxitos “antes da morte”. Mas foi plenamente ao contrário: Êxitos “antes da morte” em experiências mal arquitetadas, houve muitos; êxitos “depois da morte” nas condições científicas, não houve nenhum! Absolutamente nenhum! Por quê? Se a senha tivesse que provir dos espíritos dos mortos de quem nunca saiu e certamente nunca sairá, a comunicação dos mortos seria milagre de Deus. E Deus nunca faria um milagre como resposta a magia, que Ele proibiu.

Pretender com técnicas naturais obter efeitos sobrenaturais é magia e, portanto, herética, e, portanto, “vã esperança”, impossível.

Por Luiz Roberto Turatti, aluno do Centro Latino-Americano de Parapsicologia, CLAP (www.clap.org.br), dirigido pelo Prof. Dr. Padre Oscar González-Quevedo, S.J.

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